(Por Renata Vasconcelos)
Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2023 mostrou que o desejo de ir morar em outros países é maior entre os mais jovens. De acordo com a pesquisa, 39% dos brasileiros com idade entre 15 e 24 anos gostariam de morar fora do país, enquanto apenas 27% dos brasileiros com idade entre 60 e 64 anos expressaram o mesmo desejo.
Os motivos que levam os jovens a desejarem morar em outros países são diversos, mas incluem a busca por melhores oportunidades de emprego e renda, a vontade de estudar em outros países e a procura por qualidade de vida.
A busca por melhores oportunidades de emprego e renda é um dos principais motivos que levam os jovens a desejarem morar em outros países. O Brasil é um país com alto índice de desemprego e desigualdade social, o que dificulta a ascensão socioeconômica. Muitos jovens brasileiros acreditam que, ao morar em outro país, terão mais chances de encontrar um emprego bem remunerado e construir uma vida melhor.
A vontade de estudar em outros países é outro motivo que leva os jovens a desejarem morar fora. O Brasil oferece educação de qualidade, mas muitos jovens brasileiros desejam estudar em universidades estrangeiras para ter acesso a uma educação de nível internacional. Além disso, muitos jovens brasileiros acreditam que estudar em outro país é uma oportunidade de conhecer novas culturas e ampliar seus horizontes.
A procura por qualidade de vida é outro motivo que leva os jovens a desejarem morar em outros países. O Brasil é um país com grandes problemas sociais, como violência, corrupção e falta de infraestrutura. Muitos jovens brasileiros acreditam que, ao morar em outro país, terão mais chances de viver em um ambiente seguro, próspero e desenvolvido.
O desejo de ir morar em outros países é uma tendência que vem se acentuando nos últimos anos. O aumento da globalização e a facilidade de acesso à informação tornam o mundo cada vez mais interconectado. Isso faz com que os jovens brasileiros tenham mais contato com culturas estrangeiras e tenham acesso a informações sobre oportunidades de emprego e estudo em outros países.
Ana Paula Nunes, sempre quis morar no exterior, mesmo amando o Brasil. Mas, foi em 2018 que surgiu uma oportunidade profissional, e ela não teve dúvidas, se despediu da família, em Recife- PE, e foi morar na Bélgica. Foi lá que viu a neve pela primeira vez, e abriu seus horizontes, mesmo como deficiente auditiva, ela encontrou lá fora emprego e estabilidade financeira que não encontrou no Brasil : “ Sinto saudade da minha família, mas aqui é muito melhor de morar”, relata a brasileira de 41 anos.
Marcos Nogueira de Sá , de 35 anos, tem muita vontade de morar nos Estados Unidos, já fez intercâmbio no Canadá e gostou da experiência : “ eu consegui enxergar um universo completamente abrangente do empreendedorismo. Me tornei empreendedor, proprietário de algumas empresas na cidade de Petrolina, Pernambuco.E de quebra, ainda me formei em Letras e sou professor de Inglês até hoje”, relata Marcos.
Rogério Akira , chegou ao Japão em 2005, não sabia muito o idioma, sentia falta da família, mas os baixos salários do Brasil, fez ele enfrentar todos os desafios em busca de novas oportunidades. Ele já está há 18 anos no Japão, e saiu do Brasil com emprego certo , Rogério Akira Konno é operário da empresa Toyota e diz que ainda tem desejo de morar no Brasil, mas não tem ainda data, por enquanto pretende permanecer por lá : “ Eu não me arrependo de ter saído do Brasil, fiz minha melhor escolha”, afirma Akira.
Carlos Adonai viajou para Orlando, nos Estados Unidos e a vontade de morar no exterior permaneceu: “Pelo que já estudei pelos países que conseguimos entrar como estudante e a possibilidade de trabalhar legalmente, a Austrália é um país que me agrada muito pela qualidade de vida e segurança”, ressalta Carlos.
Ana Paula, Rogerio, Carlos e tantos outros são um retrato do que está acontecendo no Brasil: nunca os brasileiros carimbaram tanto seus passaportes rumo a novos destinos sem data para voltar. O chamado êxodo migratório internacional já é o maior da história do Brasil. De acordo com o balanço mais atualizado do Ministério das relações exteriores, o documento Comunidade Brasileira no Exterior, publicado em agosto de 2022, já são mais de 4,4 milhões de compatriotas que vivem fora do país, população equivalente à de grandes metrópoles como Recife e Salvador juntas. A maioria dos brasileiros estão na América do Norte ( 46%) e na Europa (30,8%).
Para a professora da UNB e pesquisadora do Observatório das Migrações Internacionais ( OBMIGRA) , Tânia Passarelli Tonhati as motivações da migração dependem da classe social da pessoa : ” Nós temos migrantes brasileiros que vão para os Estados Unidos que são de classe média baixa, média e mais alta. Existem os que vão em busca de oportunidades de trabalho e outros de qualidade de vida alta que vão para fazer até negócios, como o fenômeno que temos em Portugal de uma classe média mais alta que foi para comprar imóveis”, explica a pesquisadora.
Quanto às dificuldades enfrentadas pelo migrante ao chegar no novo país, também são inúmeras, e quanto menos estruturada a pessoa chega no novo país, mais dificuldades ela pode encontrar. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ipea, a barreira da língua é uma das principais dificuldades encontradas por brasileiros lá fora.
Para Tânia Tonhati, embora algumas pesquisas apontem a chamada ” fuga de cérebros”, isto é, a saída do Brasil de profissionais mais qualificados, ela acredita que esse fenômeno tenha outro sentido: a busca por trocas de experiências de conhecimento entre países. E esse fenômeno é normal e positivo e, ainda segundo a pesquisadora, não significa que essas pessoas estão deixando definitivamente o Brasil. O intercâmbio é necessário e importante, especialmente em algumas áreas da ciência.
E a expectativa para o futuro é de que esse êxodo só ganhará força. De acordo com uma pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto Datafolha,se pudessem, 70 milhões de brasileiros maiores de 16 anos se mudariam para outro país. O equivalente a 62% da população jovem. É o caso do profissional de TI , de 22 anos Thiago Vinícius : “Eu gostaria mesmo de trabalhar no exterior de forma remota, já que é algo que se encaixa bem na minha área, mas vivendo aqui, mais por questão de estar perto da família e dos lugares que eu tenho familiaridade. Mas, morar fora também é uma opção interessante, sempre pensei em morar na Alemanha, Noruega, já que a área de TI também é bem valorizada nesses locais”,relata o jovem.
A mesma pesquisa foi feita com adultos com curso superior, e 56% responderam que também tem esta vontade.
Para o sócio proprietário da Agência WA de intercâmbio, Thiago Alves, a procura pelo exterior aumentou 35% do ano passado para cá, para ele, um dos principais motivos é a instabilidade política do país e busca dos jovens por novas experiências : “ Muitos querem aprimorar a língua, fazer novas experiências e ter um choque de cultura, o que agrega muito crescimento pessoal e profissional”,relata. Thiago diz ainda,que muitos jovens vão para fazer um intercâmbio, e terminam se estabelecendo no novo país e não querem mais voltar”, relata o empresário.